Enquanto houver sol haverá um sonho, uma história, uma esperança... Enquanto o céu refletir em mim sorrisos haverão canções e saudades... Enquanto houver sonhos haverão novos amigos... Nas esquinas da vida sempre um novo! E uma vida inteira pra decifrar... Eu sou do Sol! Sou da luz! E do dia...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dona Esperança, parte 2.


Falar da esperança é falar de solidão. As duas andam juntas de mãos dadas. São duas boas amigas... Na medida da minha justificação muitos irão concordar comigo...

Viver é um mistério...

Nada é previsível.

Posso tentar planejar o meu futuro, e, estabelecer metas, mas no percurso alguns acasos podem dar ‘cara nova’, diferenciais, norteando uns novos sentidos, dividindo águas, estabelecendo pontes. Mas todo este caminho só posso fazê-lo sozinho. Ninguém nem nada podem ser responsabilizados pelas minhas decisões. Meus pensamentos, minhas atitudes, embora influenciáveis passam pelo crivo da minha vontade que manifesta qualquer tipo de escolha.

A solidão é uma marca da nossa humanidade. Somos sozinhos na multidão. Embora estejamos sempre ansiando qualquer tipo de afeto (ou estando com este afeto) não temos a solidão saciada. Somos um mistério pra nós mesmos, imagine pros outros... Por mais que comuniquemos o que estamos sentindo ou vivendo o outro sempre está à margem da profundidade de cada gesto e palavra que possamos transmitir. Mudamos de opinião como uma mudança climática e não encontramos satisfação.

Entre em cena a danada da esperança. O papel dela é estabelecer o sonho nessa vida escura, onde andamos apalpando algo em busca do futuro.

Sonhar é um sustém. Faz a magia habitar na vida, extraindo o que há de mais inefável ou libidinoso escondido no íntimo. Através dos sonhos e fantasias plantamos o Amor, o fazer o bem, a solidariedade, a satisfação de acordar numa manhã de sol, alegria ou dor de ter as máscaras reveladas e ser pego de improviso. Somos muito o que não escolhemos ser.

Viver um sonho é ser sem ser impedido. Por isso o carnaval faz tanto sucesso... As pessoas se vestem de um personagem que não se manifesta nos outros trezentos e cinqüenta e cinco dias do ano. Por isso a arte expressa a alma dos artistas... Beleza e verdade manifesta sem preconceitos, sem machucar ninguém (pode acontecer o contrário também...) Daí o sucesso dos entorpecentes. Ser libidinosamente livre, sem arquétipos sociais. E o sucesso das alienações religiosas? É muito fácil estabelecer no indivíduo metas desencarnadas da vida real.

Por isso ainda acredito que responder às perguntas de nosso auto conhecimento ainda seja um caminho individual e subjetivo, porém livre das fórmulas. Se somos solidão, devemos trilhar sozinhos o caminho para o entendimento individual. Livre eu sou protagonista da minha própria vida. Ainda cheio de complexidade e indecisão, porém com autonomia histórica.

Terça-feira tive uma crise de posse. Nada me pertence de praxe. Preciso aprender isso diariamente. A única coisa que tenho sob meu poder é meu passado, e, mesmo assim ele nada pode fazer. O meu presente acontece, meio desvirtuado, medroso. Meu futuro não veio e depende do meu agora. Me senti extremamente só, desolado. Tive uma vontade louca de escrever (já que não podia gritar nem chorar na rua), mas não tinha papel, nem caneta pra registrar minha crise. Tive inicialmente que me contentar em pensar e ouvir meu Mp4.

No ônibus, depois de algumas horas de solidão total conheci uma garota que sentava do meu lado. O nome dela é Catarina.

Conversamos sobre o presente, sobre saudades (sinal de que tivemos algo de bom e marcou o caminho trilhado), falamos da falta de domínio sobre o futuro, sobre estudar, sobre vida profissional. Ela me contou que mora no interior pra onde eu estava indo, que morava só em Salvador, e, que estava passando poucas e boas por estar estudando na Ufba e ser do interior. Falou sobre os vazios, ausências, diferenças e descobertas.

Contei a ela que naquele mesmo dia tinha dito várias vezes “amo você”, porém continuava a me sentir vazio. E Constatamos juntos que os sentimentos são propriedade particular, mas os sinais corporais com os olhos, com as mãos, com o corpo são compartilhados com o outro. As emoções precisam se expressar pra fazerem história...

Me lembrei de Maria Eugênia. Uma grande amiga que tive durante o segundo grau. Ela foi uma jovem sonhadora... Passamos três anos de nossas vidas sendo movidos pelos mesmos sonhos. Cada um em sua órbita. Ela desejava cursar Nutrição na Ufba. Vivia pra estudar. Saíamos juntos, ríamos juntos. Chegamos a nos beijar por falta de opção. Tudo isso eu contei a Catarina que riu muito.

No final do terceiro ano fui morar em Macapá. Passamos um ano nos comunicando esporadicamente, muitas vezes nem nos falávamos, no entanto mantivemos o Amor um pelo outro e amizade viva através de telefonemas, bilhetes, telegramas e cartões. Ela passou em Nutrição. Pra todos nós que a amamos foi uma alegria. No final do segundo semestre dela voltei de férias muito louco pra reencontrá-la. Isto aconteceu exatamente no dia quinze de Novembro do ano dois mil.

Cheguei em casa joguei minha mala no quarto, comi, tomei banho e liguei a tv. A primeira notícia apresentada foi a morte de uma estudante de nutrição acidentada por um ônibus e tinha sido Maria Eugênia. Fiquei catatônico por umas três horas. O Choro veio lavar a minha dor e a minha saudade.

Ela tinha deixado um dia antes o campus da universidade e fora tomar o coletivo pra voltar pra casa. Enquanto subia as escadas o motorista arrancou o carro em alta velocidade e ela foi jogada longe, onde bateu a cabeça no meio fio e veio a falecer no local. E eu não pude dizer a ela o quanto eu a amava, o quanto ela foi importante. Catarina chorou.

Temos de dançar conforme a dança da vida? O que fazer então? Paralisar diante dos sonhos abortados? Desde então compreendi que viver é ser intenso. Não deixaria mais pra amanhã o que posso fazer hoje. A vida nos obriga a mudanças bruscas...

Não me arrependo de ter dito ‘eu te amo’ a quem quer que seja. Amei e amo de verdade. A Maria Eugênia eu não disse... Mas as minhas mãos, o meu corpo disse.

Eu dizia no primeiro texto que compreender o passado é aprender a dar sentido e viver melhor o presente. Os sofrimentos, as perdas, dores precisam fazer parte da nossa vida. Edificam e constroem. Aprender a analisar a si mesmo é dar os nomes certos ao amor e ao ódio.

Em cada dia uma chance, porque deixar de sonhar é uma tragédia.

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